segunda-feira, 31 de março de 2014

A comunidade das crias

Ao longo da vida cultivamos em casa 2 hábitos que sempre atrairam gente em volta: andar de moto e ter cachorro. É impressionante o tanto de gente que se junta em volta desses assuntos.
Quando viajávamos de moto (hábito obviamente suspenso no momento) bastava parar num sinal ou num posto de gasolina com aquele monte de bagagem amarrada pra vir alguem puxar papo.

- Quantas cilindradas?
- Tão vindo da onde? Indo pra onde?
- Mas cabe a bagagem de vocês aí?
- E quando chove?

Quando é criança então... já vão se juntando em volta, metendo o dedo em todo lugar, falando ao mesmo tempo. Uma festa.

Cachorro é a mesma coisa:

- Já tive um desses, morreu com [x] anos (tristeza profunda)
- Ela é obediente?
- Vc só da ração?
- Quantos anos?

Fomos visitar amigos queridos que moram longe. De supresa voltamos com convite pra sermos padrinhos da menina deles. Uma honra ainda inédita pra nós mas que carimba nossa carteirinha do clube do filho.
Novo clube, novo papo:

- Só tem esse?
- Quantos meses?
- Oi Pedro!
- Ai gente... olha essa touca de urso!
- ARROUT!
- aaaahhh! Que fofo! 

Uma criança no colo faz amigos bem antes de pronunciar a primeira palavra. Desconhecidos chegam sorrindo pra conversar, falam de suas vidas e de seus filhos. Os mais velhos falam da saudade de seus bebês de colo que hoje estao na faculdade e os mais novos misturam curiosidade e solidariedade ao comparar (quase sempre sem maldade) os pequenos. Alguns adoram falar de cocô. Não sei porque rola um fixação de alguns pais por cocô.

A rapidez de um portador de bebê ao identificar outro em apuros é quase coisa de super herói ou mutante. Tá lá a mãe enrolada entre o ziper emperrado da bolsa e a criança berrando e do nada surge um pai/mãe desconhecido pra ajudar. É legal. A população de santos urbanos e amigos temporários cresce bastante quando a gente tem nossos gurizinhos. Desperta atitudes legais também dos sem-filho. Aquela nossa desconfiança constante em relação ao próximo parece se dissolver. Crianças catalizam coisas, filtram mazelas, fazem gente sorrir no saguão do aeroporto!

Fiquei pensando no momento que perdemos esse senso de coletividade. Adultos raramente se ajudam, raramente se falam ao acaso, jamais batem-papo pra hora passar mesmo que seja a unica opção do momento (vide salas de embarque). Você jamais falaria com aquele desconhecido, mas se ele estiver com uma criança é diferente. Por que? A criança nem sabe falar! O Adulto é o mesmo, não? Fomos ensinados e ensinamos nossos pequenos a não falar com estranhos desde cedo e levamos isso conosco. Esquecemos que depois de crescidos um cumprimento, um papo furado ou uma gentileza já não são aquela ameaça toda mas nos acomodamos assim mesmo na antipatia nossa de cada dia.

Isso vagou bastante pela minha cabeça entre um embarque e outro. Ao mesmo tempo que é legal ser um "associado" do clube do filho, é uma pena que nos agrupemos em clubes. Bom mesmo se nossos dias fossem uma festa popular dessas bem sem frescura onde todo mundo se fala e se ajuda.


quinta-feira, 27 de março de 2014

Do lar 2

Estava olhando aqui as estatísticas do blog e fiquei muito feliz com o que aconteceu com o último post. O pessoal gostou mesmo dele e a coisa se espalhou de uma forma que eu não esperava. Pelos comentários que li e ouvi, acho que ele lançou uma boa discussão em várias mesas de café da manhã de casais com e sem filhos. Obrigado pessoal.

Mas tem uma coisa que me incomodou um pouco e vou pedir licença no assunto "Pedro" porque acho válido.

Várias mulheres parecem ter encontrado ali o sermão que nunca conseguiram dar em seus pares. Muita gente me elogiou como se eu tivesse nascido "dono de casa" e isso fosse lindo. Nem perto disso.

Entrar na rotina da casa e do bebê leva tempo e custa uma compreesão grandiosa da mulher. E por favor, não peguem no meu pé por supor que é a mulher quem sempre cuida disso. Somos a geração da transição. Entendemos os erros do passado, concordamos que não pode mais ser assim mas ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Cabe a nós o esforço de mostrar com exemplos pra geração do Pedro que cuidado, manutenção, limpeza e dinheiro tem que vir dos dois lados. Não vou falar das casas que tem pai e pai ou mãe e mãe. Isso é assunto pra outro blog.

Nosso filho só tem 6 meses, mas já são 5 anos de casamento. Pra pensar como penso hoje fiz um longo estágio de faxina, cuidados, limpezas e outras "coisas de mulher". Não foi nada fácil pra nenhum de nós. Eu odeio limpar, tolero um volume considerável de sujeira e adoro ficar sem fazer absolutamente nada. Então vocês podem imaginar o quanto o chão tremeu por aqui até que eu soubesse realmente participar. Não foi uma nem duas vezes que passamos fim de semana de cara amarrada por causa da maldita divisão de tarefas. Não é só uma questão de distribuir quem faz o que.
O buraco é mais fundo e requer mudança de mentalidade de ambos, quer ver?

Você que foi correndo mostrar pro parceiro o quanto seria legal se ele fizesse isso e aquilo, reflita um pouco sobre qual é a sua parte na revolução do marido. Separei uns pontos que nos ajudaram e podem ajudar vocês:

Fale no assunto
Não adianta ficar suspirando a injustiça do mundo pelos cantos. Fale claramente que precisa dividir sua carga. Não é possível que alguém civilizado não pare pra ouvir e pensar no assunto.


Ele não é seu ajudante
É comum o papo que marido "ajuda" e mais comum ainda mulher ser a dona da limpeza, organização, etc. Enfie na cabeça que as coisas não precisam ser feitas do jeito que vc sabe. Ensine o cara pra começar. Ele provavelmente não sabe fazer nada na casa mas não fique enchendo o saco pra fazer pra sempre do seu jeito. Mostre várias vezes como se faz mas depois que pegar o jeito deixe o barbudo ser feliz. Existem milhões de formas certas de fazer a mesma coisa. Se ele se der bem lavando o banheiro com um extintor e um pouco de pasta de dente, deixa ele. Lembre-se que não são mais SUAS tarefas.

Será que não vê que...
... tem que tirar os lixos?
... nao tem mais roupa na gaveta?
... precisa ir no mercado?
... as plantas estão morrendo?

NÃO! Não vê. Não adianta ficar puta da vida porque seu relaxado é cego. Não fomos educados pra perceber essas coisas e não percebemos mesmo. Não é má vontade, é falta de treinamento. Por isso ao invés de surtar com o relaxo do cara simplesmente peça que seja feito. 10 vezes. 1000 vezes com muita paciência até que vire rotina. Uma hora vai finalmente perceber as coisas que tem que fazer.

Mas ficou uma porcaria isso aqui!
Lembre-se: você está lidando com um iniciante. É como treinar um funcionário novo. Você não vai chegar na sala dele berrando que ele só faz cagada. Tenha paciência e ensine, ensine, ensine até o gajo ter autonomia.

Ele não é seu braço
Não arrume um cachorro que você não de conta, não compre um aquário que você não consegue limpar, não invente uma moda que só você quer mas depende dele pra funcionar. Se vire. A idéia é que ambos saibam tocar 100% da casa. Peça pra ele te ensinar algo que hoje só ele faz (trocar chuveiro? Manutenção do carro?), vai ser bom aprender algo também.

Tempos diferentes
O nosso timing é diferente. Em geral, apreciamos ficar sem fazer nada. Esse negócio de preencher todos os minutos do dia com alguma obrigação definitivamente não é pra nós. Por isso se o parceiro se jogou no sofá antes de lavar a garagem, pode até perguntar quando ele vai fazer mas não fique monitorando cada minuto de ócio.

Pra resumir a história toda, eu sei que não tem muitos homens que ajudam na casa e nem com o bebê. Éé comum as mulheres que leem o blog comentarem com a Elaine sobre como os maridos são folgados e tal. Só que eu percebo que muitas delas são chatas pra ca^%@$# quando o infeliz tenta colocar a mão na massa. Muitas não tem paciência de esperar as coisas darem errado um monte de vezes até rolar a adaptação total e acabam abraçando tudo de novo.

O negócio é todo mundo da casa saber tudo. Tipo uma corrida pra levar um bastão: quando um tropeça e cai, o outro pega e continua. Não adianta reclamar da carga e não conseguir largar o osso.

PS: Eu gostava de lavar o banheiro com mangueira de jardim
PS2: O blog "Casa dos Tiks" citou nosso blog num post deles. Por uma incrivel coincidência, o assunto da postagem de lá, feita hoje, é exatamente o mesmo desta aqui, também de hoje.


terça-feira, 25 de março de 2014

Ah, os números!

Outro dia estava conversando com um colega que trabalha no turno da madrugada e também tem um filho da idade do Pedro:

- E aí, ta pesada a vida com o nenê?
- Ah, mais difícil pra mulher né. Pra mim tá tranquilo
- Vc não dá uma mão pra ela?
- Até dou, mas pouca coisa. Quem tem peito é ela né! hahahahaha!
- hahahaha


Fiquei incomodado com a conversa. Tão incomodado que resolvi mapear as atividades de cuidar de um nenê. Parece óbvio, mas não é. Tenho notado que a maioria não se toca que tem tudo isso pra fazer. Antes que alguém diga que não é assim, os números se baseiam na nossa rotina com o Pedro. Cada caso é um caso, podem colocar aí nos comentarios se acharaem legal adicionar algo mas não sejam ranzinzas. Dá muito bem pra entender o que eu quero dizer. Vejam:

Amamentar - 1 vez a cada 3h* por 20 min
Não tem jeito. Essa é da mãe portadora de peito. Claro que existem os casos em que a criança toma fórmula mas vamos considerar o leite materno pra dar uma chance pro meu amigo

(*) OK, eu sei que 3h é muito tempo. Vale explicar que o Pedro mal sabia mamar e tinha que ser estimulado, as vezes até acordado, pra se alimentar. Era o mínimo pra sobreviver considerando a prematuridade. Um bebê que nasce no tempo normal se alimenta diferente.

Arrotar - 1 vez a cada 3h por 15 min
Sim. Eles precisam arrotar depois do rango. Eu ainda não descobri em que momento da vida isso deixa de ser legal e passa a ser falta de educação. A Elaine disse que é depois de casar, mas minha mãe já não achava legal quando eu era solteiro.

Trocar Fralda - 1 vez a cada 3 horas, 5 min
Sim. Eles sujam tudo isso mesmo. Cada mamada é uma fralda se vc quiser manter o guri sempre limpo.

Fazer dormir - 3 vezes por dia, 20 minutos
Antes de ser pai eu não entendia porque tinha que fazer a criança dormir. Deixa ela lá ué! Se quiser dormir dorme, senão fica de boa no berço. Só que eles ficam chorando se vc fizer isso, então vc faz dormir pra ter sossego e seguir com a sua vida por umas horas. Fazer dormir é uma arte. Arte moderna, daquelas que ninguem entende como faz. É sorte, acho.

Brincar/Estimular/Passear - 2 vezes ao dia por 10 min
Brincar? Sim, meu jovem. Seu herdeiro precisa ser estimulado e isso não é só meter o bicho no rumo da galinha pintadinha. Tem que exercitar, passear, mexer com brinquedo, cantar, colocar no sol... sacou?

Dar banho e vestir - 1 vez ao dia, 15 minutos
Dar banho toma tempo. Não é simples como parece. Além do banho em si tem que limpar orelha, lingua, pinto, passar coisa contra assadura, vestir, pentear. Da dor nas costas. Os apetrechos são sempre baixos pra nós.

Levar no pediatra - 1 vez ao mes, 2 horas
Até a criança completar um ano é bom que tenha um acompanhamento profissional. Se deslocar pro consultorio, bater aquele papo na consulta atrasada e voltar toma um tempão e é dificil de fazer sozinho.

Levar pra vacinar - 1 vez ao mês, 1 hora
Toma um tempão também e é chato. Quem conseguir não sentir um aperto no peito ao ver o filho de poucos meses berrar com uma agulha enfiada na perna ganha um rolo de fumo de corda. Vc deve usá-lo pra mascar por aí e exibir a pessoa casca grossa que vc é!

Preparar papinha - 4 vezes ao dia, 5 minutos
Como estou me baseando na rotina do Pedro que ainda nao completou 7 meses, considerei apenas as papinhas de fruta que sao faceis de preparar. Quando entram as salgadas o bicho pega, mas deixa assim mesmo. Selecionar a fruta, lavar, tirar semente, amassar, etc adivinhe: TOMA TEMPO! A nao ser que vc opte pelas industrializadas, claro.

Dar papinha - 4 vezes ao dia, 20 minutos
Momento legal. ninguém devia perder isso. Tempo bem gasto que exercita a paciencia mas vale a pena entender como seu filho funciona e evolui.

Verificar se o bebê está vivo - 1 vez ao dia, 1 minuto
Essa não toma tempo mas faz parte da rotina. Quando ele tá muito quieto vc deconfia que ele morreu. Sério. Tem gente que não admite, mas duvido que quem tem filho aqui não cheque isso secretamente ao menos 1 vez ao dia.

Esfregar roupas manchadas - 1 vez ao dia, 10 minutos
Surpresa! Bebês se sujam e geralmente eles estão de roupa. Precisa lavar antes de usar de novo, sacou? Tipo cueca, só que com outro sabão.

Arrumar a mala do bebê - 1 vez ao dia, 5 minutos
Pra que uma mala por dia? Não é uma mala por dia mas sim ter sempre a mala pronta. Vc tem que estar um pouco previnido. Não entendeu? É assim: vc precisa levar os apetrechos pra resolver o problema caso seu filho se transforme num canhão de merda num local publico, entendeu? Legal.

Verificar/Descartar roupas que não servem mais - 1 vez ao mês, meia hora
Eles crescem pra caramba. Precisa descartar as roupas que estao pequenas e também verificar se tem roupa suficiente pro novo tamanho. Toma tempo. Se a mãe ou vó estiver junto toma mais ainda porque rola um surto de saudosismo e fofurismo que atrasa o processo.

Cortar unhas - 1 vez por semana,  20 minutos
Essa é ninja. É difícil pra cacete e tem que ser feito com o guri dormindo. Já tirei uns pedaços do dedo dele, coitado. Com muito amor, mas tirei. Aprendizado...

Muito bem... perdeu as contas? Eu ajudo



Por que eu fiz isso? Pra mostrar pros meus comparsas pais que mesmo que vc não tenha seios cheios de leite vc pode sim fazer muito pela sua cria e ajudar a patroa ter uma vida que não se resuma a cuidar de filhos enquanto você faz o que quiser. Ah, vc tem um emprego em horário comercial? Legal. Calculei isso pra vc também:



A última coluna é quanto dessas tarefas tem de acontecer obrigatoriamente em horario comercial.

Exemplo:
Pediatra - 100% - Não tem jeito. Se vc não pode sair do trabalho, não consegue ajudar nessa
Preparar papinha - 50% - Vc não precisa dar todas, mas pode fazer metade
Dar banho - 0% - Vc pode muito bem dar banho depois que chega do trabalho. Cansado? Ela também.

E a que conclusão chegamos?




Isso mesmo. Quase 65% do cuidado diário com um bebê pode ser feito pelo pai mesmo que ele não esteja em casa no horário comercial. Um emprego normal toma 1/3 do dia. Um pouco mais dependendo do deslocamento. Sobra pelo menos mais 1/3 pra participar. Eu sei que vc tem que dormir, mas geralmente o bebê não respeita isso. Agir de madrugada é parte do jogo.

Muitas dessas coisas que listei precisam habilidade, delicadeza. Não é fácil mas aprende-se. Vamos deixar esse papo de "homem não leva jeito pra isso". É seu filho, é sua mulher vivendo pior porque você não participa direito.

No fim das contas meu amigo falou uma coisa certa: tem que ter peito. Tenhamos!

quarta-feira, 19 de março de 2014

Quando o urubu tá azarado...

Lembra aquele post que me lasquei indo pro espanhol? E lembra aquele outro que me lasquei largando a casa aberta num dia de tempestade? Pois sempre que vc cava o fundo, tem outro fundo pra rir da sua cara.

Chegamos de Maringá na segunda a tarde. Isso significa que nosso fim de semana de faxina não aconteceu e a casa estava um lixo. Quem me conhece um pouco sabe que dado o meu nivel de exigência pra limpeza, devia estar mesmo ruim.
Trabalhei até meia-noite normalmente e a Elaine ficou mexendo com as malas. Guardar, colocar pra lavar, etc.

No dia seguinte levei Elaine no trabalho e deixei o carro na oficina. Sim, deu pau na estrada e precisava de uma consulta de urgencia no mecanico. Tudo bem, eu não ia mesmo sair. Como agora sou do lar, pretendia colocar ordem e higiene naquele caos.

Aí aconteceu algo que só a vida moderna pode nos proporcionar: acabou a água. Sim. Sem qualquer comunicado nossa cidade inteira estava sem água e só notamos por sorte porque a maquina de lavar (água direta da rua) parou de funcionar.
Nota 10. Tínhamos que racionar. A limpeza já tinha dançado e agora não podíamos nem lavar a louça. Sabe-se lá quando a porcaria da água ia voltar.

Ficamos convivendo com o minimo, priorizando o Pedro e tal. Hora da fruta: o pequeno glutão comeu quase meio mamão papaya. Bravo!

Terça é dia de espanhol. 14:50 é meu horário. Já eram 14:30 e nada do Pedro acordar. Fui la na cozinha, fiz uns barulhos, liguei a TV pra disfarçar meu atentado ao sono e nada do bicho acordar. É claro que ia acontecer na medida pra me atrasar.
Comecei a saga de descongelar leite e logo ele acordou. vamos lá, prioridades, respira fundo, esquece o relógio. Vamos mamar, filhote!

mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mama mamama.. GASP! GLUP! Uh...

- Não... não... vômito não, vômit..UUUUUUUUUuuuuuuuuuhhhhhhh

nunca vi tanta eficiencia em devolver 100 ml de leite. Lavou a si mesmo, a mim, sofá e chão. Uma mini fábrica de queijo azedando a sala que como explicado acima, já precisava de limpeza ANTES disso.

14:50

- Professora, preciso cancelar. Tive um problema aqui com o nene e tenho que limpar a bagunça.
- Ah, mas chegue atrasado! Nao tem problema!
- Ta, vou tentar (até parece).

Peguei o Pedro e fui direto dar um banho nele quando lembrei que... NAO TEM AGUA!
A caixa d'água já estava no fim e o pouco que restava saía sujo como água de rio. Limpei o carinha como pude, troquei uma fralda com 2Kg de mamão mal digerido e o deixei só de fralda no berço. Foi aí a primeira vez desde o inicio de tudo tive vontade de chorar. Sério. O Pedro ficava olhando pra minha cara e eu, que já estava meio pirado mesmo, desabafei com ele

- Olha filho... desculpa o pai. Hoje tá foda demais, desculpa o palavrão também. Só xinguei porque vc não vai sacar. Eu to tentando deixar tudo no jeito pra vc mas eu não to conseguindo. Nao conta pra mãe sobre toda essa zona.

E nisso me dei conta que estava desabafando com um bebê, um jacaré de pano e uma vaca da Parmalat.

15:30

Fui testar as torneiras e descobrir que a água voltou. VIVA!
Viva uma ova. A água veio tão suja que não tinha como usar. Enchi uns 10 baldes de agua na esperança que fosse embora a "sujeira dos canos" e nada. Fiquei pensando no que fazer quando lembrei que nao fechei o registro de agua que entra na caixa. Isto é: fiquei abastecido com 1000 litros de água suja. Bom demais! Pensei em buscar uns galões de água mineral pra remediar mas ESPERE! O CARRO ESTA NA OFICINA!

<ring>
- Alo
- Oi Flavio. Aqui é o Marcelo da oficina
- Opa, tudo bem? (diga que ta pronto, diga que ta pronto, diga que ta pronto)
- Tudo. Seu carro é o seguinte: ele ta com problema elétrico e talvez tenha que trocar o painel inteiro
- hum...
- To vendo o que faço aqui, ainda não é certeza
- E quando sairia se for isso mesmo?
- Caro
- Muito caro?
- É, muito.
- Obrigado

Pra pular pro final: a unica torneira em uso na casa passou a ser a do filtro de água de beber. A única que sai água limpa. Uma panela de pressão de 8 litros que ocupa um espaço descomunal no armário finalmente fez algum sentido numa familia pequena como a nossa: armazenar e transportar água potável, banhável e cozinhável pela casa.

E depois de tudo... quer saber como resolvemos o problema da água, limpamos a casa e consertamos o carro?

Por favor aguarde. Nenhuma das coisas aconteceu até o momento.


terça-feira, 18 de março de 2014

As duas pontas

Fim de semana corrido e triste.
Pedro encarou sua primeira viagem longa de carro. 700Km pra chegar em Maringá e ganhar colo da Vó Lena que também tinha rodado muito pra ver a mãe: a bisa Carmen, que vivia suas últimas horas. Todos se juntaram ali em volta para desejar o que fosse melhor pra ela.

E o melhor foi partir no sábado a noite.

Quando o Pedro estava na incubadora eu disse uma vez que só era possível juntar tantas pessoas em volta de uma em dois momentos: quando a vida começa e quando acaba. Levamos Pedro, a ponta mais nova da família, pra nos acompanhar na despedida da Dona Carmen, a outra ponta. Ela agora deve ter encontrado o seu Manoel de quem sentia tanta falta e a filha Mara, que as vezes era meio desligada e quando viu já estava la em cima cedo demais, antes de todos.

Não deve ter sido fácil pro jovem. Foi forte, só acordou pra mamar 2x na estrada e a noite nem dormiu mal. Seguiu sua rotina de sempre sem tomar muito conhecimento da movimentação toda. E dá-lhe tirar cadeirinha, colocar cadeirinha, improvisar lugar pra amamentar, ficar de olho em qual colo ele está desfilando e por aí vai. Passou ileso, sorrindo.  O guri que nem fala ainda levava o melhor do abraços pra quem estava muito triste. A cara de malandro dele rindo pra vó Lena afastava a tristeza, dava o recado da vida se renovando e nos lembrando que o mundo não liga muito pra ninguém. Ele só gira e a gente pega carona.

Um bom descanso pra bisa. Ela merece.


terça-feira, 11 de março de 2014

Noé de zorba

Ontem foi dia de dar vacina. Uma de gota, outra de injeção. Pro bem do bolso, a dose da vez existe no posto de saúde. Algumas das vacinas que o Pedro precisa só existem na rede particular, sem convênio.

A tarde fiquei a pé, só aqui cuidando do menino. Ele tem feito uma bagunça muito boa de assistir. Parece que quer fugir do berço. Agarra o mosquiteiro, vira de bruço, chuta a grade, bate a testa... Enquanto não chora eu assumo que ta tudo bem e fico só olhando. Acaba dormindo, cansado de se arrastar igual um soldado de bunda grande tentando chegar na trincheira.

A noite caiu um toró daqueles. Chovia e ventava como se a seca dos ultimos 3 meses precisasse ser resolvida ontem. Tínhamos saído pra comprar pão e ver a obra. Tranquilo. Água caindo firme mas já estávamos dentro do carro voltando pra casa.

Aqui não tem portão eletrônico então era papel do gentil marido destrancar o cadeado, abrir o portão e segurar a cachorra. Guarda-chuva? Não. Mas nem adiantaria se tivesse.
Fiquei medindo a situação por um tempo. E Não deu coragem.

- Ah não... essa roupa ta limpa. Vamos esperar um pouco
[30 min]
[granizo]
[explosão]
[blackout na cidade inteira]
- Então... vai lá?
- Ta loca? Só se for de cueca. Olha essa água!
- HahAhHAhAH. Tem coragem? Nesse dilúvio e nesse escuro não tem ninguém na rua mesmo!
- ...
- Flavio? NAO Favio! BOTA ESSA BERMUDA! FLAVIO!!!!!!!!!!

Fazia tempo que eu não tomava um banho de chuva. De cueca na frente de casa foi o primeiro.
Assim que entramos todo meu heroísmo se foi. Tinha saído de casa com a cabeça na lua e larguei tudo aberto. Aquela chuva toda encontrou feliz todas as nossas portas e janelas arreganhadas.

Foi bem higiênico. Lavou o chão, nossa cama, o berço, os bichos de pelúcia, a cômoda. Ficou tudo bem limpinho. Era só pegar um monte de panos e secar tudo aquilo no escuro.
Nisso descobri mais uma consequencia da cabeça na lua: tinha esquecido de tirar os panos do varal. Todos os trapos de chao estavam lá. Molhados e inúteis. 

Elaine tava tensa porque o estoque de leite que ela conseguiu juntar com um baita sacrificio ia estragar todo na geladeira desligada. Ah sim! Eu precisava trabalhar ainda. Mas sem energia o jeito foi fingir que o problema não existia e ir dormir antes das 22.

Voltou as 2 da manhã. Chequei o leite e nao tinha descongelado. Ainda bem. Dormi mais um pouco e acordei pra compensar as horas perdidas de trabalho. Tinha uma apresentação pra montar. Ainda bem que o Pedro tava tranquilo. Dormindo como sempre sem reclamar. Ele no carrinho, a gente no sofá. Unicas coisas da casa que estavam secas e pareciam com camas.

Nem a Dinah tinha aonde deitar. Abri uma camiseta velha pra dar algum chão seco pra ela.

Hoje cedo enquanto eu ainda trabalhava a Elaine ajeitou tudo antes de ir pro consultório.
É nóis.



PS: Alguém pediu pra colocar no blog um recurso pra enviar e-mail quando tem atualização. Coloquei ali em cima, a direita. É só preencher com seu e-mail e o aviso chega. Obrigado pela sugestão. :-)

segunda-feira, 10 de março de 2014

Pra não dizer que não falei dos chocolates

Ontem nós três saímos pra comer uma pizza. Pedi mesa pra dois-e-meio e no fim descobri que precisa mesmo uma mesa pra quatro. O carrinho ocupa lugar demais. Pizzaria movimentada por causa do dia da mulher. Chegaram as bebidas finalmente:

- Um brinde
- Viva!
- Deixa eu ver o que vamos brindar...
- Hum...
- Sei lá... a nós!
- Poxa meu lindo! E o dia da mulher?
- Ah, droga... foi mal. Esqueci.
- Viva!
- Viva!

Ficamos falando sobre o tal dia da mulher entre goles e balanços no carrinho. Mais que dia de dar flor e chocolate, dia de refletir.
Longe desse papo bobo "ó que seria de nós sem elas", "ó, mães e esposas dedicadas que cuidam da gente" mas uma reflexão de verdade, que nos afaste da fala superficial da TV e do comércio.

Para nós homens, reflexão sobre o que temos sido para nossas mulheres. Nos comportamos como parceiros leais que também fazem renúncias para abrir espaços ou apenas como donos generosos como era há 200 anos? Entendemos direito o que foi conquistado por elas ao longo dos séculos que as reprimimos? Estamos prontos para debater ombro a ombro ou ainda disfarçamos nossa a velha forma de agir "permitindo" que façam o que quiserem? Conseguimos assimilar com naturalidade que a função de colocar dinheiro em casa e não se preocupar com mais nada é retrógrada e nos faz pequenos?

Para elas, dia de se perguntar se a idéia de igualdade cai bem ou se é mais confortável o revanchismo de ridicularizar machos como um bando de Homer Simpsons desorientados. Refletir se a raça humana realmente aprendeu algo com tanto preconceito de gênero ou se o desejo é que a opressão apenas se reverta contra o opressor. Analisar se estão prontas para recusar lutas bobas que massageiam o ego mas no fundo só fazem o mundo mais sexista medindo se quem pode mais são homenzinhos ou mulherzinhas. 

Outro dia vi uma entrevista do Morgan Freeman onde o coitado do repórter perguntou pra ele como era ser um negro tão cabuloso no cinema, que atingiu tudo que atingiu. Ele ficou puto e deu uma resposta que serve para todas as conversas fiadas acerca de grupos que sofrem/sofreram algum tipo de discriminação. Foi mais ou menos assim:

- Enquanto existir essa pergunta, nada mudou. Se ainda te chama atenção o fato de eu ser negro então está tudo errado. No dia que sua entrevista for do começo ao fim e vc nem lembrar que eu sou preto, então o mundo evoluiu.

Por isso mulheres, jamais se deixem seduzir pelo discursinho de "veja essas mulheres bem sucedidas" pois eles são como dizer "ficou lindo" pra um rabisco de uma criança de 4 anos. Pensem se devem mesmo apoiar candidatas que vão a tv dizer que "vão levar a força da mulher para o congresso" ou se devem cobrar que mostrem um bom projeto sem usar a roupa de baixo como argumento.

Muitos criticam a existência do dia. Sustentam que se já há igualdade, pra que um dia pra elas? O dia existe porque há muitos anos mais de 100 mulheres foram queimadas vivas dentro de uma fábrica por reivindicarem seus direitos. Essa afronta não pode ser esquecida jamais. É por isso que o dia é de pensar e não de comer chocolate. O dia da mulher é como uma linha que existe pra marcar o lugar aonde ficava o muro de Berlim: Quando não tiver mais nada pra brigar, a lembrança tem que estar lá pra que jamais se repita.

E chegou a pizza.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Um pelicano de chupeta

A saga da fruta continua. Muitas dúvidas na cabeça do pai. Acordo o guri pra comer? Dou fruta no lugar do leite ou a fruta é só pra ir treinando? Ainda descubro.

Em mais uma investida com maçã, seguimos com a enrolação da maçã-arte, maçã-moleque, maçã que ginga na boca pra lá e pra cá e volta virada em polpa babada.

Descobri que existe um compartimento secreto na boca das crianças. Tipo o pelicano, sabe? Pois é. As crianças guardam a comida mastigada nesse compartimento e quando vc já tá comemorando aquele rango bem sucedido eles te cospem tudo que armazenaram. Ah sim, geralmente fazem isso chorando, claro. Afinal vc é um agressor querendo enfiar-lhes agridoces goela abaixo.

Torrei os miolos pensando em como ensinar um serzinho tão principiante a engolir comida. Pensa só:
- Ele não fala sua lingua
- Ele nao sabe imitar
- Ele sequer sabe que precisa aprender algo
- Ele ta puto

Jesuis... foi bem mais fácil ensinar a cachorra.

Comecei a pensar no que ele conhece. Ele sabe mamar. Quando mama engole. Então lembrei que existe a maldita chupeta. Ele não usa, mas a gente tem uma que serve pra dar um remédio.
Imaginei que se a boca estivesse cheia de comida e tivesse um bico pra ele "mamar" isso o ensinaria a engolir.
Lá fui eu arriscar o método que, adivinha só, FUNCIONOU! Comeu tudo.
Como vou fazer pra ele largar a chupeta eu nao sei. Um dia de cada vez.

Uma amiga, Juliana, sugeriu um metodo que se dá pedaços grandes de fruta pra criança "brincar". Ela fica roendo aquilo como faz com os mordedores até que se acostuma e acaba aprendendo. Menos risco de engasgo. Ainda não tentei, mas vou. Maiores detalhes [aqui]. Valeu, Ju.

Interessante que no final eu suava como se tivesse feito uma caminhada e meus ombros doíam pra danar. Essa saga levou aí uns 30 minutos. Acho que foi a tensão de não saber se tava acertando ou matando meu filho.

No fim, vitória! Maçã já era! Rumo a manga espada, a jaca, o pequi...

terça-feira, 4 de março de 2014

Telecoteco Balacobaco

Terça-feira de... trabalho!
Há alguns anos algum gênio jurídico da empresa onde trabalho descobriu que na maior parte do Brasil o Carnaval não é um feriado oficial. Pronto. Desde então a gente nem lembra do ziriguidum. Expediente normal. Eu não gosto de carnaval, mas gosto de feriado, pow!

Semana comum, Elaine decidiu trabalhar na segunda e eu fiquei aqui no meu turno do dia. Pedro luta contra maçãs, bananas, mamões e sucos de laranja. Ainda não tá fácil pra ele decidir o que fazer com essas coisas, então ele faz o que sabe: berra e cospe.

O suco é quase um jiu-jitsu. Aliás, se alguém souber ai uma chave de bebê eu agradeço. Dificil imobilizar a criaturinha enquanto tento enfiar goela abaixo alguns ml de suco ralo. Algo me diz que ele ta aprendendo que gritar como a Mary Jane e se debater como um polvo drogado me faz desistir temporariamente da missão. Por enquanto eu ainda seguro o coice, mas imagina na copa?!

Já no turno da noite, tava aqui trabalhando e olhando o carinha conversar com os bichos dele. Tá bem comunicativo. "Fala" sem parar quando ta acordado. Num desses momentos tava aqui na corujisse olhando pra ele e PLUF virou de bruço. Caceta! Ele não sabe fazer isso! Como pode? Você é um nenê, bicho! É ilegal! Ow! E patinou no colchão por uns 5 minutos até cansar.

"Grande coisa!"

Pra mim foi mesmo. Depois do perrengue que ele passou logo no início da carreira poder ver que os pés, mãos, braços e cabeça funcionam o suficiente pra se virar sozinho no berço é quase uma formatura. Eu não sabia se ria, se ligava pra Elaine, se tirava foto, se filmava e acabei só olhando e curtindo o momento. Bobice de pai de primeira viagem, acho. Coisa que aliás deve estar estampado na minha cara.
Outro dia numa loja um cara com cara de Paulo Coelho parou pra brincar com o Pedro:
- É seu primeiro né?
- É
- Logo vi
- Por que?
- Ah, por essa...
- ...
- ... essa...
- Corujisse?
- É.
- Vc tem mais?
- Tenho 5

Profissionais... já devia ter aprendido que não da pra enganá-los.

domingo, 2 de março de 2014

Sem rodeios

No final do ano quando Pedro conheceu boa parte dos parentes alguém comentou:

- Por que todo mundo se comporta igual bobo alegre na frente das crianças?

Vou preservar a identidade do comentarista, mas realmente o paparico proporciona cenas de extrema vergonha alheia. Parece que quando a pessoa passa na frente da criança ela é tomada por alguma síndrome de bobice aguda: bate palma, mostra a lingua, baba, repete 30 vezes a mesma frase como se tivesse problema de dicção: "Nenê góta didá risadinha, góta?". Normal, claro. Todos nós fazemos isso mas a pergunta do comentarista misterioso ficou na minha cabeça.

Ontem fomos ver preço de telha pra nossa casa. Pedrão lá junto, fazendo sucesso e juntando ai-que-fofo-cuti-da-titia pra todo lado. Olhava tudo sem dar palpite. Espero que goste da casa onde provavelmente vai crescer, afinal ela vai ser cenário pras suas primeiras lembranças. Queria que o jovem pudesse dar o pitaco sincero dele. Aquele que só criança consegue, sabe?

- Gosta da vovó, filho?
- Não.
- Nãããão? Por queeeee????
- a Vó fede, pai!

Essas coisas acontecem e vai o pai e a mãe contornar a sinceridade do lingua de metralhadora. Pior que se a criança falou isso é porque o Phebo da vovó deve andar vencido mesmo. Papo reto de nenê.Como discordar? Um dia vamos passar por isso. Nossas mães são cheirozinhas, mas vai saber o que o guri vai achar pra reprovar e nos constranger, né não? Elaine quando era criança chorou de dó na casa do tio Jota porque ele não tinha muitos móveis e nada na geladeira (era uma república e ele recém-formado).

Aprovação. No fim acho que tudo nesse mundo gira em torno de aprovação. Nos vestimos "adequadamente" com o que está vendendo bem, trabalhamos em empregos tolos e muito bem vistos, passamos a vida tentando ser o que esperam de nós. Os bebês aprovam sorrindo, sorriem fácil quando veem bobices e acho que ta aí o nosso porquê.

Ficamos bobões a troco de um sorriso puro, inquestionável. É certamente por isso que todo mundo perde a linha quando está cara-a-cara com bebês. Já tinham me dito mesmo que o sorriso do filho era a melhor coisa que existia no mundo. Eu concordo em parte porque acho difícil desbancar o bacon, mas realmente é muito legal.

Hoje o Pedro riu cuspindo banana e mais tarde tomando suco de laranja. Tá crescendo. Logo vai estar aí dizendo impropérios às vós e nos metendo em saia justa. Ainda bem que vó já vem de fábrica 100% aprovada, com ou sem sorriso.