sexta-feira, 2 de maio de 2014

O outro lado da licença maternidade

- E aí Flávio, beleza?
- Beleza. E vc, como ta a empresa lá?
- Vai bem. To precisando de um funcionário.
- Ah, tem uma conhecida que tá procurando. Acabou de sair de onde ela tava.
- Ah não. Precisa ser homem.
- Mas qual é a vaga?
- Caixa.
- Ué... o que tem contratar uma mulher pra ser caixa?
- Cara, de um tempo pra cá só contrato homem ou mulher com mais de 50. Não banco mais gravidez!

AAaaaahh! Imundo! Machista! Crapulasafadoporcochauvinista!!!!
Talvez. Mas olha o que descobri esses dias:

Antigamente a licença maternidade era paga pelo governo. A funcionária se afastava e o INSS pagava a licença diretamente a ela no período de afastamento. A mamãe recebia o benefício e o empregador continuava gastando exatamente o mesmo pra colocar uma funcionária temporária no período da licença. Justo.

Agora a coisa mudou e quem paga é o empregador. O INSS apenas reembolsa em forma de desconto do INSS que a empresa recolhe.

Explicando melhor usando salarios de mil reais como exemplo:

(Clique para ampliar)
*Os valores de encargos são aproximados

Em outras palavras: Quanto menor a empresa, mais difícil é pra ela bancar a contratação de mulheres.
Acho muito justo todo o discurso sobre salários iguais, condições iguais, tudo igual no mercado de trabalho. Mas eu não tenho coragem de condenar meu amigo microempresário porque ele desistiu de ser bom e humano amargando o prejuízo de uma lei mal feita. Afinal, numa empresa de dois funcionários (não vou nem falar das de 1) a despesa com folha de pagamento aumenta 35%.

Pouco? Pense qual seria o impacto na casa se de repente vc tivesse que aumentar em 35% o salário da sua empregada doméstica.

Problema isolado/pontual? Não se considerarmos que 60% dos empregos formais do país estão nas micro e pequenas empresas.

Iniciar um pequeno negócio é osso. Fazer a coisa sobreviver aos primeiros anos é uma batalha diária e tudo que um empreendedor não quer é mais uma torneira vazando custo fixo. Machista? Hum.

Além de tudo que já falei aqui sobre quanto o Brasil não está pronto para uma geração de pais presentes, ainda existe esse tipo de barbeiragem que coloca um abismo entre homens e mulheres na disputa por um cargo.

Todo mundo sabe que criar filhos custa caro. Só acho criminoso que esse custo afete tão fortemente quem não tem nada com isso: os empregadores. Principalmente os pequenos.



Um comentário:

  1. Flávio, eu concordo com você. Aou mulher e micro empresária, então consigo entender os dois lados. É fácil pro governo decretar seis meses de licença maternidade mas deixar a bomba na mão do empregador. Tenho amigas tentando se recolocar no mercado de trabalho mas não conseguem por causa da idade, ou seja, acham que elas vão engravidar e não contratam. Perde a mulher, perde a criança e perde a empresa. Não que eu seja contra a licença maternidade-peloamor, óbvio que não, mas ainda estamos longe de um modelo justo.

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