terça-feira, 17 de novembro de 2015

O dia que errei a mão

Obs.: para entender direito este post, antes leia este e todos os comentários.

Outro dia escrevi um post com uma espécie de teste. Pra mim era um convite a reflexão. Ele causou algumas descurtidas no blog e uma moça que parecia me odiar desde a infância encheu os comentários com links feministas, provocações e ironias. Coisas que vocês podem ver por si.

Escrevendo o blog que escrevo, uma coisa que não esperava era ser apontado como machista, elitista e vários outro _istas que vivem por aí.

A moça era chata.

Tão chata eu fiquei incomodado e fui conversar com mais gente sobre o assunto. Procurei alguém que não economizaria sinceridade mas que tinha, digamos, mais equilibrio pra criticar o que escrevi. Segue o que é mais importante:


Flávio Marim: Você entendeu essa moça? Porque pra mim ela só quer brigar.

E: E que o feminismo de verdade luta exatamente pra acabar com essa dicotomia homem x mulher. Aí quando vc propõe o exercício:e  se rolasse a igualdade instantânea? Da exemplos que não são de igualdade na maioria das vezes mas de uma inversão de papéis seguindo o estereótipo machista que o mundo segue hoje

Na verdade seu erro neste post esta em colocar feminismo como uma bipolarização. Eu sei q muita gente faz isso,mulheres inclusive,a tal da Roberta inclusive, mas feminismo não é isso.

E: Sobre a pergunta 5 (homem não querer fazer sexo): foi machista. Muito. Isso acontece. Muito. E não se sabe de nenhuma mulher que tenha estuprado o marido que não quis comparecer. Já o contrário... Eu entendi pq te conheço e ainda assim me incomodou. Imagina quem não te conhece.  😝
Flávio Marim: Ei, não era sobre estupro. Era sobre frustração


E: Pois é. .. mas homens não são compreensivos nesta situação tendem a se comportar de uma maneira horrorosa. Do ponto de vista que você sugere que vai seguir nos dois primeiros parágrafos. ... leva ao raciocínio que eu fiz automaticamente. Se vc tivesse escrito: Se frustra? ao invés de "compreensiva?". A interpretação seria outra. Entendeu?

Flávio Marim: Entendi. Obrigado.


E: Enfim.... concordo que tem ativista  mais preconceituoso que muito Bolsonaro por ai. E tão ou mais cretino, mas acho que nessa vc errou a mão.

Pois é gente. nunca pensei que fosse escrever algo que viesse a ser entendido como um argumento pró-estupro. Pra mim a não-compreensão na hora do namoro forte é resmungar e dormir bravo. Nem passou pela minha cabeça que tem uns caras (e tem mesmo) que estupram suas próprias mulheres.

Meu ponto com esse post era provocar as pessoas a perceberem que talvez estejam se escondendo atrás da sua minoria. Vejo muito ativista que ao invés de buscar igualdade está louco pra passar de oprimido a opressor. O objetivo do post era justamente fazer as pessoas se questionarem se não estão nesse grupo. Se lá no fundo não gostariam de estar acima e não ao lado

Ainda sobre a leitora do blog que me levou a escrever este post. Uma das coisas que ela disse é homem não opina sobre feminismo. Ou concorda, ou se cala.

Sobre isso queria dizer que sobre o que opino ou deixo de opinar é decisão exclusivamente minha e tenho sim algo a dizer sobre isso:

Existem muitos homens que já quebraram paradigmas fortes rumo a uma posição de igualdade. Não botem esses caras, nos quais me incluo, no mesmo balaio de criminosos e malucos que vivem no século XV. Vejo diariamente gente como eu tomar porrada como se fosse boçal/estuprador/misógino por conta de uma frase mal falada. Apontem nossas mancadas com mais clareza e menos ódio, por favor. No fim acho que queremos a mesma coisa.




sábado, 14 de novembro de 2015

Teste: Você está pronta pro mundo que desejou?

Outro dia a Thabata mandou um texto do Blog Macetes de Mãe que falava basicamente sobre o problema da geração atual de mães ter sido criada pra fazer dinheiro e sucesso, não filhos.

A postagem me fez ficar pensando sobre como a gente pode não estar preparado pro que deseja pro futuro.

Ultimamente meu facebook tem sido inundado de debates de gênero. Absurdos como o assédio a menina do Master Chef, perseguição e ameaça de morte a autora do blog feminista Escreva Lola Escreva, textos sobre estupro, machismo, igualdade e as questões relacionadas a "o corpo é meu, não encha o saco".

Com esse vórtice de discussões homem x mulher sempre vem a questão da maternidade, da desigualdade no trabalho e da participação dos homens na criação dos filhos.
Há pouco mais de 2 meses saí do meu último emprego e desde então tenho me dedicado exclusivamente ao Pedro durante o dia.

Esse retorno ao verdadeiro Turno do Dia me expôs a situações que me fizeram pensar se as mães tão ativas e escrevedoras da internet estão prontas pro que desejam. Será que iam gostar do resultado se de repente o mundo fizesse <PLIM> e rolasse uma igualdade total e instantânea? Um mundo onde os homens cresceram preparados pra entender plenamente de gravidez e filhos. Que tal um teste?

Situação 1
O corpo é seu e você faz o que quer. Amamentação é linda, ninguém tem que te esconder ou cobrir. Quem olhar torto pra isso é retrógrado ou tarado.
<PLIM>
Que tal a sala de espera de pediatria com 6 pais dedicados conversando alegremente e você amamentando seu gurizinho? Fica a vontade? Vamos adiante.

Situação 2
Você precisa de uma babá. Após muitas referências acaba ligando pra uma agência e te recomendam a Iraci. Excelente, experiente, ideal pra cuidar da sua menina.
<PLIM>
Quando a Iraci chega vc descobre que ela é "O" Iraci. Que tal? Deu medo? Vamos refletir agora sobre preconceito ou ir adiante?

Situação 3
Escolinha nova. Chega pra deixar seus bebês no traumático primeiro dia e se depara com <PLIM> 4 educadores. Homens barbados. Deixa ou volta?

Situação 4
<PLIM>
O Iraci além de babá é Doula. Contrata? Hmmm...

Situação 5
Vc chegou do trabalho tarada. Quer dar de qualquer jeito. AGORA. O bebê dormiu mas <PLIM> seu campeão ta pregado. Com as costas moídas e só querendo dormir. DE NOVO pela terceira semana consecutiva. Compreensiva?

Situação 6
Vc tem uma posição de liderança em sua empresa. Seu melhor funcionário está no meio de um longo e importante projeto que deve ser entregue em 30 dias.
<PLIM>
Nasce o prematuro dele e você está na mão por 5 meses a partir de hoje. Quantos mais vc contrataria casados nessa faixa de idade?

Este teste não tem resposta. Ele é só mais uma reflexão sobre igualdade e preconceito.

Vejo muita gente gritando por coisas sem ver no entanto algum preparo pra encarar as consequências caso aquilo seja conquistado. Talvez nem os gritadores acreditem no que pedem e assim se sentem seguros.

Posso estar errado, mas fala a verdade: quem não se arrepiou quando imaginou o Iraci?

Este post rendeu outro. Clique aqui para ver a continuação.


domingo, 27 de setembro de 2015

Papai subiu no telhado

Pedro voltou a dar trabalho pra dormir.
Mesmo depois que a gente colocou o colchão quadrado no chão ele tem acordado desesperado pela mamãe.
Ontem choveu um bocado aqui. Finalmente. Junto com a chuva parece que veio um sono bom.
Criança dormindo, chuva caindo, sabadão e madrugada boa pra dormir um pouco mais que de costume (o que significa ir além das 6 da manhã).

Soninho
barulinho de chuva
criança dormindo
barulinho de chuva
sábado
barulinho de chuva
barulinho de chuva
barulinho de chuva

- FLÁVIO DO CÉU! - Elaine na porta do quarto com as mãos na cabeça.

A chuva tinha parado há horas. O "barulinho de chuva" era uma cascata não planejada descendo pela lâmpada do escritório. Com a chuva veio um vento que arrancou meia dúzia de telhas e foi o suficiente pra transformar o chão de madeira do cômodo num lindo espelho d'água.

Todo mundo de pé. Afinal dormir depois das 4:30 da manhã no sábado é coisa de vagabundo.

Todos os panos da casa foram destacados para drenar uns 30 litros de água.

Enxuga-torce-joga-na-privada
- PEDRO, pára de sapatear na água!
- Á-UA! Hihihi.
- Sim, filho é água
- hihihi
- BUSCA MAIS PANO, FLÁVIO!
- Forra ali! Tá indo pra baixo do guarda-roupa
- PEDRO! NÃO TOMA A ÁGUA DO BALDE! SUJO!
- SÚ-O!
- Sim, sujo.
- Á-UA.
- Água, filho... PANO!!!!!

E a cachoeira descendo livre no meio do cômodo.

Terminada a missão, lá foi o papai pra cima da lage avaliar o estrago.
Nosso telhado tem uns 8 metros de altura e as telhas são lisas como piso de cozinha. Lá em cima consegui trocar e arrumar as telhas por baixo, entre a lage e o madeiramento, sem pisar no telhado. Seria mais fácil e rápido ter saído e trabalhado em cima da casa, mas aí entrou um pensamento interessante.

Quase todo homem é meio cabeça de bagre nessas horas e resolve o problema do jeito mais fácil mesmo que seja uma falta completa de juízo. Lá em cima olhei a altura da bagaça e avaliei que era arriscado demais. O engraçado é que o pensamento automático não foi.

"Caceta, se eu cair daqui vou morrer, me quebrar, ficar inválido."

Mas sim

"Caceta, já pensou se o Pedro fica sem pai?"

Pode ser exagero pensar na morte só porque precisou subir na casa. Mas o que é muito interessante é como muda o foco. Eu nunca dei muita moral pra essa conversa de que pais amam o filho mais que a si mesmos. Sinceramente eu achava que ainda gostava mais de mim. Fui supreendido lá em cima pela idéia que um acidente teria uma vítma indireta muito mais importante que a direta.

Desci de lá mais sujo que o Papai Pig depois do campeonato de poça de lama e com alguns cortes novos em virtude de minha impressionante(!) habilidade para manusear telhas quebradas.

É bem provável que o Pedro cresça aqui. Nunca vai imaginar que as telhas mais mal colocadas da casa foram motivo de reflexão sobre amor e vida.

Tá dormindo.
Barulinho de chuva.
Agora vem de fora mesmo.



quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Um dia na vida de um pajem

Pajem: rapaz que, na Idade Média, acompanhava um príncipe, um senhor, uma dama, para prestar-lhes certos serviços e iniciar-se na carreira das armas [Google].

Como para a maioria dos assuntos não estamos mais na idade média, hoje eu definiria assim:

Pajem: guri fofinho que mal aprendeu a andar e, lançado num corredor de igreja infinito, tem a missão de levar em segurança um par de jóias até o outro lado. Geralmente desiste, chora, derruba tudo ou corre para os braços da mãe antes de percorrer um terço do caminho o que não impede que as noivas continuem apostando no sucesso da operação. Afinal, ele é muito fofinho.

Minha irmã casou no último fim de semana e com muita sabedoria nos deu a honra de acompanhar o Pedro, pajem iniciante, na missão-aliança. Adianto que todos chegaram ao altar com sucesso, mas antes disso quero contar um monte de coisa.

Roupas

PUTA QUE PARIU! Alguém aí sabe quanto custa vestir uma criança de 2 anos socialmente? Eu não sabia. Sou um mão de vaca firme para os gastos infantis e imaginava que o abusivo mercado de coisas pra criança não perdoaria alguém pequeno querendo se vestir como um lorde. Tenho dificuldades pra gastar em roupas pra mim (que serão usadas por cerca de 7 anos) o que custa uma roupinha dessas (que não servirá mais em 7 semanas). 

Como o casamento era de dia, optamos por um visual um pouco mais descontraído que pode ser comprado na Renner por apenas 50% do absurdo.

Avião

Pela última vez, Pedro viajou de graça. O limite de 2 anos batia com a volta do casamento. Viajar de graça significa viajar no colo e mesmo num voo de 40 minutos é bem dificil explicar a um jovem pajem que ele tem que ficar sentado-com-o-cinto-afivelado-encosto-reto-e-bandeja-travada. Quer andar da cabine ao banheiro N vezes.

Dica para as noivas: decore sua igreja para parecer um avião e seu pajem vai percorrer o corredor feliz e sem imprevistos.

Hotel

Entendo a necessidade de otimização de espaço mas você empreendedor de sucesso da rede hoteleira: pense num box que caiba uma pessoa e meia. Eventualmente pode ser necessário dar banho numa criança.

Dica aos viajantes: quando forem ao Rio e quiserem passar um tempo na Barra da Tijuca, recomendo o Ibis da Av. do Pepê. Apesar do box-supercompacto os apartamentos de final 5 tem vista pro mar, o preço é decente e tem uma cama dobrável bem boa pra acomodar os pequenos (de novo: não ganho nada. Indico quando gosto).

Parentes

A família foi em peso pro casamento. Fizeram um esforço e marcaram uma presença bonita e divertida. Deixaram as crias com as vós e se esbaldaram no turismo pela cidade. Não participamos dessa parte. Um ensinamento importante da paternidade é que passeio com filho atrapalha quem está passeando sem filho. 

Recado importante as mães-verdade: Não é crime deixar filho com alguém pra se divertir um pouco. Ter consciência que criança de colo anula qualquer diversão adulta não tem nada a ver com o amor que vc sente e o cuidado que vc tem. Portanto quando vir alguém deixando um bebê com a vó pra ir encher a cara, não encha o saco. Cada pai/mãe sabe o que faz.

Na hora H, no dia D

Chegou o grande dia e tudo estava perfeitamente sincronizado. O sono e o almoço do Pedro bateram como um relógio nos horários que a gente precisava pra se arrumar. Apesar de tanta novidade, a rotininha dele estava em ordem a acordaria no horário de sempre, perfeito pra darmos banho e colocar a beca de pajem.

Aí vem o diabo e diz "não tão rápido..."

Acordou do nada 10 minutos depois de dormir. 
Só foi ceder ao sono 1 hora depois bagunçando todo o esquema perfeito que todo pai trouxa acha que vai rolar.
Enquanto ele dormia, aproveitamos para nos arrumar. Esperamos o limite. 30 minutos antes da hora de sair e o guri ferrado no sono, sem banho. 

Vamos acordar.

Como esperado, acordou irritado, mau humorado, agitado, um saci. Interromper o sono é critico mas não tinha jeito. Pra piorar a coisa la foi o pai todo bonito e cheiroso enfiar o moleque no chuveiro. Poesia pura. E como se o caos já não tivesse batido o recorde histórico, era preciso colocar nele uma roupa que continha suspensórios e gravata borboleta.

Foi fácil como... colocar um gato num saco.

Era impossível. O máximo que conseguimos sem causar um atraso foi enfiar a roupa de qualquer jeito e levá-lo pro embarque (o casamento era numa ilha) todo desgrenhado, sem sapatos e... dormindo. Sim, porque depois de toda essa luta ele precisava continuar o sono que interrompemos.

Como era um casamento, o cramulhão saiu de cena e as coisas começaram a chegar no lugar novamente. Terminamos de arrumar o moleque no pier, ele curtiu andar de barco e chegamos no casório.



Cheguei lá meio perdido com todo o agito, a emoção de ver casar uma irmã, o lugar arrumado com infinitos detalhes impecáveis que eu queria prestar atenção e a cerimonial no nosso pé tentando garantir que as alianças iam chegar pontual e impecavelmente nos dedos dos donos. Minha Elaine me deu um soco na cara pra me trazer de volta a realidade e lembrar que tínhamos que dar comida pro Pedro imediatamente ou isso se tornaria um problema. Que tal uma frutinha sem poder sujar nada? Mais poesia. Conseguimos.

Tudo beleza, tudo fantástico, céu de brigadeiro pro casamento ao ar livre. A boa música só era interrompida pela cerimonial pedindo que a gente garantisse logo um lugar na frente, imóvel e seguro. Coitada... tava grávida. Ainda vai saber o tamanho do absurdo que estava nos pedindo.

Como não podia deixar de ser, deu merda. Literalmente. Hora de trocar fralda concorrendo com hora de começar a cerimônia. O lugar tinha uma bela tenda de brinquedos pra criança, mas nem sequer um trocador. Deitar o sujinho em cima da mesa era mancada, juntamos duas cadeiras num canto meio escondido e la vamos nós na missão sem-sujar-nada mais uma vez.

Recado para quem tem locais de festa para alugar: um trocador portátil custa menos de R$ 200. Por menos que vc goste disso, crianças estão por toda parte e fazem um bocado de cocô mesmo quando estão no seu recanto dourado impecável.

Com um par de pezinhos numa mão e uma fralda na outra fui interrompido pela cerimonial lembrando que se não fossemos AGORA alguém ia pegar nosso lugar. Expliquei pra ela que não era correto que o pajem comparecesse nu e com a bunda suja. Ela compreendeu.

A cerimônia começou e a missão agora era distrair nosso menino enquanto muita coisa bonita acontecia la na frente e eu não conseguia acompanhar. Uma peça de lego passeando entre os pratos e copos resolveu o problema. vrum vrum vrum.

Decoradora desesperada lembrando que tem um canto só pra crianças.

- Depois a gente arruma, moça. Não da pra sair daqui. - Ela não compreendeu.

Pajem

Finalmente, o momento do pajem. Minha irmã caprichou na referência e escolheu uma música que tb tocou no meu casamento. Emocionante. Caminhamos todos sem problemas e as alianças seguiram seguras para os dedos do casal. Missão cumprida, Pedro feliz no colo da minha tia indo pro canto dos brinquedos.

Soneca

A festa já tava animada, já era noite e chegou a hora de dormir. Garimpei qualquer coisa onde pudesse deitar o Pedro e achei umas almofadas retas, tipo colchonetes. Acomodei no chão perto da nossa mesa e ali ele ficaria. Ficaria se não tivesse aparecido uma criatura organizadora:

- Você não pode usar essas almofadas
- É só pra deitar o bebê
- Não pode colocar isso no chão
- OK, desculpe. Mas me dá uma idéia melhor, ele dormiu.
- Tem a tenda dos brinquedos que a gente preparou pras crianças
- Sim, mas lá não da pra dormir. Além disso é perto do barranco. Se ele rolar, cai na água
- Você tem que ficar la com ele
- Vc quer que eu me isole no casamento da minha irmã pra evitar usar suas almofadas, é isso mesmo?
- O espaço das crianças é lá
- Deixa eu adivinhar: vc não tem contato com nenhuma criança na sua vida. Nenhum sobrinho, ninguem. Certo?
- O espaço...

Virei as costas e saí. Afinal era dia de festa. No fim o primo arrumou um banco macio e a gambiarra dele ficou melhor que a minha.

Dica para organizadoras de festa: crianças fazem parte do mundo, pedimos desculpas pelo inconveniente.

Finalmentes

Fiquei muito feliz de ver minha irmã casar. Ela fez uma festa com um bom gosto que nunca tinha visto, escreveu um texto inspirador para celebrar a própria união e escolheu pra si um parceiro de verdade. Um cara "gente nossa" demais. Formam um casal de gente certa daquelas que não se atreve a jogar plástico no lixo de papel, que não reconhece um famoso no aeroporto mas pode discursar por horas sobre todas as implicações politicas e ambientais da maldita obra aeroportuária no lugar errado.

Irmã, o que conto aqui no blog é sempre a parte que tem a ver com o Pedro e a diversão é sempre por conta das presepadas, mas seu dia foi perfeito como vc sempre mereceu. Aqui de fora vejo o maridão como a peça exata pra completar o quebra-cabeças de milhão de peças que vc vem montando desde criança. 

Você conseguiu juntar em torno de si uma família de fazer inveja. Família ampla feita de parentes e não-parentes. Alguns que eu nunca tinha visto mas estou certo que sabem de você mais que eu. Em eventos como o seu que a gente vê o privilégio que tem sendo parente dos amigos e também amigo dos parentes. Se for com o mesmo cara recomendo que case de novo. Foi muito legal!

Dica pros noivos: Nada. Só continuem como estão. :-)





domingo, 9 de agosto de 2015

De pai pra pai

Hoje acordei mais tarde e tava tudo pronto sem que eu participasse. Filho limpo, café pronto e cartinhas de dia dos pais espalhadas pela casa. O Pedro caprichou mesmo. Teve uma pequena ajuda da mamãe Elaine que sabe como ninguém me fazer sentir homenageado. Valeu, gente!

Liguei pro meu pai, o vô Luiz.

Seu Luiz é um pai tradicional. Daquele tempo que trocar fraldas jamais entraria no script de um pai. O pai brabo que eu lembro de criança foi sofrendo uma metamorfose ao longo dos anos. Ficou suave, sereno e até um pouco chorão. Não sei se ele que mudou ou eu que aprendi a entendê-lo.

Aos 10 anos, como era de se esperar, ele já era meu super-herói e ainda to esperando essa fase passar. Do jeito dele, as vezes por e-mail ou telefone o cara me pega no colo até hoje.
Não seria certo eu dizer que me espelho nele pra cuidar do Pedro porque como já disse, ele pertence a uma época que essas coisas não passavam pela cabeça de ninguém. Pra esses assuntos vale mesmo se inspirar na vó Benedita.

Mas o certo é que pra qualquer coisa que saia do assunto de trocar fraldas e que eu esteja desgraçadamente enrolado eu costumo parar e pensar: "o que ele faria agora"?

Nunca falhou.

Agora que sou pai penso se vou dar conta de ser pro Pedro metade do modelo que meu pai é pra mim. Quem dera.

Pai, parabéns pelo seu (agora nosso) dia. Trata de viver bastante porque eu preciso de um gabarito pra saber que tipo de avô eu devo ser depois dos 100 anos. Vida longa e saúde pro meu super-herói.

Te amo.







sexta-feira, 24 de julho de 2015

A dança das camas

Eu sempre desci a lenha em quem leva bebê pra dormir na cama com o casal.
Desculpa aí pessoal que lê o blog e faz isso mas eu acho um absurdo. Coisa de gente fraca e sem paciência que não sabe dominar a situação.

Assim que eu recuperar minha metade da cama, juro que vou ensinar como faz.

Pois é... briguei contra isso o quanto pude, mas em algum momento da história o Pedro veio parar no meio da nossa cama. Pô filho! Sabe quanto custou aquele berço?

Descobri tomando a tradicional surra-de-pai que nessa fase a criança não dorme se não estiver encostada nos pais, ou pior, na mãe - o que elimina qualquer possibilidade de revezamento.
Até surge a brilhante idéia de deitar do lado do guri lá no quarto dele mesmo. Foi aí descobri meu primeiro equivoco na dança das camas.

Além de ter sido enganado pela auto-confiança de manter minha cria em seu próprio colchão ainda caí no conto do berço.

"É mais caro, mas depois vc tira esses parafusos, abaixa aqui e ali e ele vira uma cama! Cabe bem até uns 6 anos. Super econômico!".

Uma ova. O berço que vira cama é uma bela porcaria que no modo cama fica alto demais do chão - e portanto perigoso pra uma criança que se mexe mais que um saci - sem falar que mantem a fragilidade de berço. O que te impede de se encolher ali pra controlar a situação.

Vamos comprar uma caminha!

Brilhante! Uma caminha de criança. Essa sim vai durar até uns 6 anos. Podemos comprar uma daquelas sem pé, bem baixinha e ta resolvido.

Aí um belo dia fomos na casa da Olívia que dorme numa dessas e descobrimos que além do conto do berço existe o conto da caminha.

"To torto. Preciso dormir no chão do lado dessa merda se não quiser levá-la pra nossa cama" - Resmungou meu quebrado cumpadre.

Caminha cancelada.

Sem solução e com o Pedro cada vez mais espaçoso, comecei abandonar a minha cama e ir pra um colchão. mas aquilo não dava pra aceitar. Eu precisava da minha cama e minha senhora de volta pelo menos durante a noite.

Já que eu não dormia direito mesmo, usei isso pra pensar em alguma coisa. Cama grande... baixa... que possa acomodar um pai/mãe até o pequeno dormir.

Desmontei o berço e mandei fazer um colchão. 1,35 x 1,35. Praticamente um berço de casal. Desse tamanho ele pode se bater a vontade e se cair o chão ta logo ali. Se chorar, cabe um de nós encolhido ali do lado até dormir de novo. Parece bom.

Faz 12 noites que essa opção está em funcionamento. Ainda acontece bastante de ter que ir parar na nossa cama mas ta 7 x 5 pro colchão. Bem melhor que o 100 x 0 que eu vinha tomando.

Vamos aguardar.





quarta-feira, 15 de julho de 2015

9 coisas que não contaram sobre a casa dos sonhos

Todo mundo que engravida logo pensa em ir pra uma casa maior.
Se for o primeiro filho, certeza. Casal ta morando naquela casinha daquele tamanho desde que casou, agora a família vai aumentar e é hora da casa própria.

(Lembrei do peão do Silvio Santos fazendo UIIIIIIIN UIIIIIIIIIN UIIIIIIN UIN UIN UIN PÃ PÃÃÃÃ)

Como não tem mais esse clássico da TV, papais e mamães se debruçam sobre a papelada da Caixa Econômica pra ver quanto dói a tal casa maior. Para esses envio

As 9 coisas que não te contaram sobre morar numa casa maior e melhor! (UIIIIIIIIIN!)

1) A conta de luz vai ser uma desgraça

Não, a sua família não pirou no banho de 4 horas
Não, você não está esquecendo as luzes acesas
Não, o moço da cia energética não roubou na leitura
Ocorreu que na casa que vc morava antes tinha uma lâmpada por cômodo e agora que vc resolveu ir pra uma casa legal ela tem luminárias bonitas de 2, 3, 4 lâmpadas cada uma. É matemática básica: sua cozinha atual tem mais lâmpadas que toda a sua casa antiga

2) Nada combina com "equipamento" infantil

Você gastou horas na maldita loja de acabamento escolhendo minunciosamente seus porcelanatos, laminados, metais, vidros e todas as biroscas caras que todo mundo acha que merece ter. Infelizmente nada combina com pula-pulas, cavalos de borracha, bolas de futebol e cueiros cheios de ranho. Sua casa nova vai viver cheia de decoração duvidosa produzida pelas crianças camuflando seu lindo travertino da Indonésia.

3) Você já não tinha tempo antes, agora já era

Uma casa maior e mais bonita demanda manutenção. Tem mais banheiro, mais grama, mais armário e muito mais frescura. Se na sua ex-casinha com seu bebê a todo vapor vc já se sentia sem tempo, agora ou vc morre de trabalhar ou gasta um monte de dinheiro pagando gente pra limpar e manter tudo num estado mínimo de dignidade

4) Vc vai querer a morte dos seus contratados

O sindicato que me perdoe, mas seja lá quem for que vc contatar, essa pessoa vai aos poucos estragar sua casa. Todos aqueles problemas que vc ja tinha assimilado na sua casa anterior ("Ela mancha os vidros", "ela encardiu meu piso", "vc viu o que ela fez na porta???") vão agora parecer um plano pra vc pirar com a maldição do bombril furioso.

5) As visitas vão aumentar

Você vai descobrir que muita gente não vinha visitar você e sua cria porque a casa era pequena. Agora dá e eles vão aparecer. Tenha colchões!

6) Vc vai lembrar muito dos seus pais

Tira o pé daí!
Olha a mão na parede!
DÁ JÁ ESSA CANETINHA!
Desce agora!
Vai limpar com a lingua, moleque!
Isso não é brinquedo! Solta!

(dispensa maiores explicações)

7) Você vai pensar na morte com orgulho

Quando tiver aqueles raros momentos de paz, vai contemplar seu filho, olhar a casa que fez, refletir e sentir orgulho de pensar que tá ali um negócio legal que será dele um dia. Só não esqueça de pagar a parcela.

8) Você desenvolverá pelo menos uma nova habilidade

A mudança vai te inspirar a mexer no jardim, construir um deck, fazer um escorregador ou construir a decoração do quatinho do jovem. A maioria das vezes você vai fazer cagada, mas vai ser divertido e alguma habilidade nova vai se revelar.

Obs. Mamães: deixem os papais se divertirem e gastarem dinheiro com coisas que vão ficar feias e dar errado. É legal!

9) Você vai gostar de apanhar

Você vai xingar tanto durante a obra que talvez aprenda alguns palavrões novos e relembre outros que não falava desde criança. Eu reativei "fubanga" depois de uns 10 anos. Pior: a obra nem vai ter acabado e você já vai ter idéias brilhantes pra próxima casa como se já não tivesse apanhado o suficiente dessa. Quem sabe no próximo filho né...

É só!


domingo, 5 de julho de 2015

Presente pra usar

Dia desses a gente foi na casa de uns amigos que tem um molequinho. Ele tinha lá um brinquedo que a gente que deu e reparei que o negócio tava todo arregaçado, mordido, sujo, pintado de caneta e suspeito até que um pedaço tenha pegado fogo. De primeira fiquei meio puto pela falta de cuidado, mas pensei um segundos e acabei ficando feliz porque afinal o presente tinha sido usado. MUITO usado. Melhor um brinquedo estropiado na mão a dois zero-Km no armário.

Dia seguinte fomos na festa junina da APAE.
Festa boa, comida boa, monte de gente ajudando a facilitar um pouco as coisas pro pessoal que tem uma vida que já começou difícil.

As coisas foram montadas num parque público grande, com muito espaço pra brincar. O Pedro quase virou do avesso de tanto correr e chutar a bola que ganhou na pescaria. Eu já tava meio de saco cheio de não conseguir tomar meu quentão correndo atrás dele. Ia abrir a boca pra resmungar quando vi um pessoal se empenhando pra colocar um menino na cadeira de rodas. O guri tava feliz por conseguir ver de perto como montavam os cachorros-quentes. Olhei em volta e tinha dezenas como ele. Todos felizes com suas pequenas vitórias do dia.

Calei minha boca e joguei bola com o Pedro até o fim da festa.

Noite de alegria, correria e reflexão.

Eu sou relaxado com religião. Minha mãe pega no meu pé porque "de vez em quando a gente tem que dobrar os joelhos". Não que eu não seja grato por todo bem em volta e todo mal que passa ao largo. Mas acho que o melhor jeito de celebrar essa riqueza é usando.

Tô falando de sair a pé com seu filho, sujá-lo, pintar a cara dele com abacate. Não ser preguiçoso, enfim. Será que seu tempo de whatsapp diário somado não é maior que o que leva uma volta no quarteirão?

Eu não entendo nada dessas coisas, mas pra mim a maior celebração da vida é usá-la. Eu sei (mesmo) que as vezes precisa da Santa Peppa garantindo meia hora de silêncio pra cozinhar o almoço. Mas é bom lembrar que enquanto vc escolhe um caminho fácil pro seu filho parar quieto em algum lugar tem alguém comemorando porque seu pequeno chegou sozinho no portão de casa depois de 1000 sessões de fisioterapia.

Não economize vida. Se vc acredita que Alguém quer te ouvir agradecendo, suspeito que assim como eu Ele prefira ver o presente que deu ser muito bem usado.

Agora desliga aí e vai passear com sua cria.



* Tirei a foto deste site aqui. Muito interessante pro pessoal da luta diária que citei.

domingo, 28 de junho de 2015

Tua mãe é homem!

(Aviso: esse post pode dar merda)

Puxado pela aprovação do casamento gay nos EUA, outro dia minha timeline tava toda colorida. Lá no meio do arco-iris tinha uma dessas discussões de facebook bem acaloradas sobre casais gays que resolvem criar filho. Haja paciência pra cada categoria de cabeça de bagre que resolve dar opinião.

Sem nenhum orgulho disso, eu me considero preconceituoso.

Desde minha adolescência já abandonei uma boa carga de idiotice que carregava sobre o tema, evoluí, mas ainda fico constrangido quando vejo dois caras se pegando. Isso mostra que ainda tenho uma quota de idiotice pra largar. Um dia chego lá.

O que eu acho um saco nesse tipo de discussão é que o pessoal fica debatendo o hábito sexual do cidadão como se interessasse pra alguém além dele mesmo. Imagina só se a galera resolvesse discutir se é certo, errado ou abençoado por Deus o caboclo que gosta de lamber o dedão do pé antes de dar um trato na patroa.

Não dá né? Vida privada são 4 paredes e o direito de não dar satisfação. Deixa o pessoal lamber onde quiser, pô!

Aí vem o assunto de filho.

Tem um monte de gente que acha a maior furada uma criança ser criada por dois caras ou duas mulheres. Alguns malucos acham que só vai sair criança gay e outros, pouco menos malucos, acham que vai faltar referência. Pessoalmente acho que tem coisas que fluem melhor com um pai homem e outras que fluem melhor com uma mãe mulher. O que a gente não pode é achar que vão crescer monstrinhos só porque as mamães Maria e Beth não tem muito a  dizer sobre, sei lá, como cuidar do próprio pinto talvez.

Acho sim que um pai homem ou uma mãe mulher podem fazer alguma falta. Só que eu vejo todo dia pais e mães convencionais (eu inclusive) falharem miseravelmente na educação dos seus filhos sendo exemplos ruins, falando o que não devem perto das crianças e dando mancadas inconfessáveis na modelagem dos pequenos. No fim, quase sempre dá certo.

Então me fala aí porque achamos que só nós convencionais podemos dar nossos pulos e compensar o que faltou? Acho sim que filhos de casais homo podem sentir falta de alguma referência, mas meu ponto é que de algum jeito falta algo pra qualquer filho.

Não é o mesmo que falta ao filho de uma mãe sem estudo
Não é o mesmo que falta ao filho de um pai que não da carinho
Não é o mesmo que falta aos órfãos de pai ou de mãe
Não é o mesmo que falta ao filho de pais separados
Não é o mesmo que falta a quem mora em condomínio
Não é o mesmo que falta a quem tem pais famosos
Não é o mesmo que falta ao meu filho e ao seu. Sim o seu, campeão.

Imune? Então que tal se um dia pegar seu guri triste porque vc chega 10 da noite todo dia enquanto o Juca da rua de baixo brinca pra caramba com o par de pais dele?

Complicado né? Mas se isso acontecer, sem problemas. Vc vai contornar, dar seu jeito e criar uma pessoa bacana. Todos dão um jeito de superar o que falta, não é? Pois é... TODOS. Até os que gostam de lamber o dedão nas preliminares.



quarta-feira, 17 de junho de 2015

Ah, mas EU...

Uma vez vi em algum lugar que as pessoas tinham que parar de fazer curso de oratória. Todo o esforço pra se falar com técnica e desprendimento deveria ser substituído pela arte de calar a boca.

Basicamente um curso de "escutatória".

Um negócio que me enche muito o saco é que na maioria das rodas de conversa ninguém ouve ninguém. Todo mundo só espera a sua vez pra contar sua história, esta não desperta nenhum interesse, a próxima pessoa conta e assim ciclicamente.

Depois que virei pai, vi esse comportamento multiplicado por mil. Se as pessoas em geral só sabem falar de si, haja saco pras que tem filho pequeno. Todo mundo louco pra contar uma história que ninguém quer saber.

Tenho quase certeza que vc pensou "NOSSA! ODEIO ISSO! VERDADE!" e já lembrou de alguém que vc conhece que faz muito isso. Se estivéssemos falando pessoalmente vc já ia contar sobre essa pessoa chata e...

BÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ - Surpresa! Vc tb gosta de falar de si e contar sua história urgente.

Precisamos reaprender a conversar. É urgente conseguir se interessar pelo que o outro está falando. Entendo que as vezes é osso, tem gente que só sabe falar de cocô, mas é melhor sair da roda que ficar ignorando o que o outro diz e lançando papos interessantíssimos (só pra vc). Ninguém está ouvindo.

Pergunte, comente, critique, sugira mas dê um pouco de valor a escutatória. Gaste o assunto dos outros antes de entrar no seu pelamordedeus. Tentemos nos esforçar pra transformar essa roda chata de pais e mães em modo-monólogo em algo agradável ou criaremos um bando de filhos pé-no-saco que não sabem ouvir.

Pra ajudar, eis aqui um sintoma importante: se depois da fala de uma pessoa a sua primeira frase contém "eu", "meu","nós","nosso","o fulano (seu filho, etc,...)", "lá em casa" ou qualquer outro termo que remeta a SEUS assuntos, desculpe, mas deve ser chato demais falar com você.


BÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ




terça-feira, 9 de junho de 2015

A pior mãe do mundo

Com essa frase minha Elaine confessava via whatsapp que não tinha sido mãe o suficiente. O melhor brinquedo do mundo, uma caixa de papelão, tinha virado em machucado.

1 segundo: Pedro na caixa
2 segundos: Pedro de cara no chão

Todo mundo sabe que não pode dar bobeira com criança, mas uma das coisas que ninguém conta é que várias vezes a gente permite que brinquem com qualquer coisa mortal que nos libere por alguns segundos.

- Legal a espingarda do pai né filho? Tenta engatilhar enquanto a mãe mexe o feijão. Fofo!

Como eu já disse em outro post, os brinquedos redondos, seguros, anti-sépticos e educativos não são os que despertam maior interesse. O que atrai mesmo são os metais, lâminas, precipícios, etc. Todo pai e mãe do mundo (exceto eu) já aceitou algum perigo muito atraente em nome de alguma tarefa paralela inadiável.

Admitir isso, jamais.

Aliás não pode mesmo admitir porque todo mundo vai julgar. Portadores ou não de criança, todos sabem exatamente como devia ter sido com o filho dos outros. Isso faz de nós, vacilões, os piores do mundo.

Vacilões tão ruins quanto Elaine, que não conseguiu evitar a queda do Pedro enquanto usava o horário de almoço para providenciar roupas quentes e limpas.

Tão ruins quanto eu, que hoje larguei um tanto de comida saudável na pia pra remover minha criança pendurada no fogão em funcionamento.

Tarefas em nome de Pedro fazendo Pedro se machucar.
Ironia: ao contrário das mãos, os ouvidos estão sempre livres pra receber informação sobre como vc fez tudo errado.

Puta mundo injusto.


sábado, 6 de junho de 2015

Turno do dia 2

Não, eu não morri.
Em alguns momentos achei que fosse morrer, mas não aconteceu.
Desde que troquei de emprego e meu turno do dia virou lenda não consigo fazer nada que não seja trabalhar e dormir (pouco). Cheguei a virar 32 horas sem parar e quando achei que ia ficar doente...

- Ele não pode mais ir na escola.

Com essa frase a médica do Pedro jogava na nossa cara que de tanto ficar doente na escola a saúde dele tinha se esgotado. Não era uma sugestão, era uma ordem.

Como se tira um guri da escola sem família nas imediações?

Uma vó veio por uns dias, a outra veio mais um tanto. Mas o afastamento era de 2 meses. 2 meses? Ninguém pode parar a vida por tanto tempo porque os marmanjos aqui acharam bonito ter filho longe de todo mundo.
Como se já não houvesse culpa suficiente em criar filho em escolinha/creche ainda vem um chacoalhão de realidade...

- Flávio não pode largar o emprego senão meia casa cai
- Elaine não pode largar consultório senão a outra meia-casa cai
- Vós não podem
- Não há dinheiro pra babá
- Pedro precisa ficar em casa a partir de HOJE

PensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensa

... TURNO DO DIA!

Fechei com a Elaine que arrumaríamos grana pra babá de meio período e dividiríamos a semana: 3 manhãs pra ela (que consegue remanejar a agenda), 2 manhãs pra mim. Dava certo. Só faltava um detalhe: eu contar pro meu emprego que ia mudar meu horário.

SÓ QUE a empresa atual não tem expediente noturno como a anterior. Eu tinha que criar um turno. E aí...

Medo de não deixarem
Medo de atrapalhar a carreira
Medo de não arrumar o dinheiro da babá
Medo de me colocarem num projeto-merda por eu deixar de ser alguém-com-quem-se-pode-contar

Eu não podia pedir. Se pedisse podia não dar certo.
Respirei fundo no meio de uma reunião e comuniquei: "a partir de amanhã trabalharei das 13 as 21 duas vezes por semana. Meu filho está doente e preciso cuidar dele."

Saí da reunião ainda de crachá. Aparentemente meu emprego continuava lá.
Mais tarde recebi apoio de minhas chefes e vi que tudo estava mesmo bem.

Retomei o cuidado com Pedro. Agora maior, gosta de passear no parque e sair correndo atras dos bichos que tem la. Descobri que mesmo num emprego "normal", 8 horas semanais fora do horário comercial não matam ninguém. Aliás, vc trabalha concentrado fazendo aquelas coisas que nunca consegue sem que te interrompam.

Pensei em todas as mulheres que passam por isso desde a revolução do sutiã e por mil razões não podem dizer no trabalho que estão trocando de horário.

Pensei em todos os homens que gostariam de fazer isso mas "não vai pegar bem"

Pensei em todas as empresas que querem dar algum incentivo a seus funcionários sem tomar prejuizo. 

Como eu já disse aqui outras vezes: muitos de nós topariam ganhar MENOS a troco de uma flexibilidade desse tipo oferecida de forma permanente. Ninguém trabalharia menos, só parcialmente deslocado em alguns dias. 
Casais de profissionais se revezando em horários alternativos, deslocando de 8 a 12 horas por semana em seus respectivos empregos em nome do cuidado com os filhos. Soa como algo que faria bem a todos, não?

Fica a dica, empresário.


domingo, 18 de janeiro de 2015

Quem vai ficar com Pedro?

A noite, Pedro tem dormido mais cedo.

Isso nos devolveu o direito da pizza com filme de vez em quando e anteontem foi um desses dias. Uma beleza.

Mas o diabo tá sempre a espreita pronto pra cutucar os pais que acham que tão na boa.

Acordo as 5 da manhã.

Desta vez não pra pegar o Pedro. O jovem ainda dormia como um pedrisco. Acordei azedo pra vomitar com uma "energia" que não se passava desde meu último porre de faculdade.
Vou poupar todo mundo dos detalhes sórdidos mas basta dizer que eu amanheci... vazio.

Pensei na pizza que podia ter algo estragado mas Elaine acordou bem, então o estragado devia mesmo ser eu. Paciência.

Insisti em ir trabalhar mas pedi penico (literalmente) ainda de manhã. Só uma cama me interessava.
Me larguei em casa e daí a pouco vem whatsapp da Elaine:

"To mal."

Ô pizza desgraçada. O Pizza sem jeito!

torto + torto = par de tortos largados em casa. Pelo menos Pedro tava na escolinha mas isso só ia durar até 17:30. Busquei o carinha e voltei pra casa. Começou a saga. Como 2 pessoas doentes cuidam de uma criança saudavel, ativa e louca pra brincar?

Sabe aquela bobagem que todo pai fala quando o filho fica doente? "Ai que dó! Se eu pudesse passava isso pra mim!". Acho que alguém lá em cima ouviu essa asneira da última vez e providenciou o pedido só pra gente largar mão de ficar perturbando com disparates.

A cena da noite eram duas pessoas pálidas deitadas no tapete com uma criança no meio. Uma mistura de desespero e cansaço a oferecer brinquedos que nos deixassem gemer em paz por alguns minutos.

- Segura a fera aí que eu preciso ir no banheiro
- Tá
[segundos depois]
- Vai demorar?
- Por que?
- Preciso ir tambem
- Perae, to saindo em 1 minuto
- Não da. To indo no outro!
- E O PEDRO?
- AH, ELE SE VIRA AÍ!
- HEIN?
- (BLAM!) - porta

E assim Pedro curtiu alguns minutos de solidão inédita pela casa. Um par de pais presos nos banheiros tentando apressar o inapressável e aquela sensação de ser meio Família Buscapé, meio The Middle*.

Ele ficou bem.

Pouco depois o diabo deu um tempo, o céu se contentou com a penitência e Pedro, pela primeira vez na vida, assistiu TV por 10 minutos e dormiu.

Amém.


(*) The Middle é um seriado americano de uma familia com 3 filhos onde o casal só faz fiasco, erra com os filhos de todas as formas possiveis e vive se questionando se sabe tocar direito a familia.