terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O almoço grátis e tudo que ouvi no fim do ano

"There's no free lunch". A frase em inglês que significa "não existe almoço grátis" é usada em um monte de lugares pra reforçar o papo de que por mais que algo pareça ser de graça, nunca é. Ou alguém paga ou você mesmo paga de outro jeito.

Fim de ano é sempre um festival de almoço grátis. Na casa da mãe, da vó, da tia, da sogra, do amigo-do-primo-do-vizinho-do-noca. Uma beleza. É sempre jóia viajar um pouco e rever gente.
Pedro é estrelo. Carinha concorrido quando a gente passeia por terras natais.

Coisa boa é que acaba rolando um contato que no resto do ano a gente não tem em nossa família de 3 morando no raio que o parta. Dá pra observar novidades aos montes e juntar um punhado de frases curiosas. Agrupei algumas campeãs de audiência:

"Nossa! Como o Pedro é tranquilo!"
"O Huguinho quando vem aqui toca o terror!"
"Também... a mãe do Huguinho é uma fraca. Não educa. O menino faz o que quer"
"O Pedro é uma bença! Vocês tiveram muita sorte!"
"Aiiii que dóóóó! Não coloca ele de castigo não tadinho!"

"Nossa! Como o Pedro come bem! Ele adora frutas e coisas saudáveis!"
"O Luizinho... precisa ver. Só come porcaria. Passa o dia no chips se deixar."
"Bom... se for ver na casa dele ninguém come bem. Não é atoa que são gordos e hipertensos"
"O Pedro é uma bença! Vocês tiveram muita sorte!"
"Mas nem um pedacinho?? Como assim ele não conhece chocolate? Que dóóó!"

"Nossa! Como o Pedro é obediente!"
"As crianças de hoje parecem uns marginais. Tamém... bando de pai e mãe bunda-mole da nisso."
"O Pedro é uma bença! Vocês tiveram muita sorte!"
"Aiii... você é muito duro com ele às vezes. Precisava isso?"

Um pirulito da Chiquinha pra quem achar a relação entre as frases nos grupos acima.
Isto não é um pedido de elogio, mas uma constatação sobre o trabalho invisível de criar alguém que preste. Acho que aquele julgamento automático filho ruim -> pai ruim devia ser igualmente automático quando a gente acerta.

E rapaiz... como é dificil acertar. Como dói cortar um momento de êxtase em diversão ilegal e transformá-lo em bico e lágrimas. A gente sofre quieto mais que o dono do bico. A recompensa também silenciosa vem quando o pequeno se aproxima com cuidado dos cristais da Tia Isolda:

- Pode papai? Pode?
- Não filho. Só ver.
- Tá bom papai.

Não existe bença grátis.


Um comentário:

  1. Pois é... não existe mesmo! Lembro-me de uma vez ter sido elogiada nesses termos pelo meu filho ser educado e comer bem... e usaram a 'sorte' como razão para isso. ahhahahahah tive que dizer que a sorte tinha nome, sobrenome e muito prazer, sou eu mesma. Poxa! Sorte? É sangue, suor e lágrimas... quase sempre literalmente.
    Espero que Pedro continue essa bença! :)

    ResponderExcluir