segunda-feira, 31 de março de 2014

A comunidade das crias

Ao longo da vida cultivamos em casa 2 hábitos que sempre atrairam gente em volta: andar de moto e ter cachorro. É impressionante o tanto de gente que se junta em volta desses assuntos.
Quando viajávamos de moto (hábito obviamente suspenso no momento) bastava parar num sinal ou num posto de gasolina com aquele monte de bagagem amarrada pra vir alguem puxar papo.

- Quantas cilindradas?
- Tão vindo da onde? Indo pra onde?
- Mas cabe a bagagem de vocês aí?
- E quando chove?

Quando é criança então... já vão se juntando em volta, metendo o dedo em todo lugar, falando ao mesmo tempo. Uma festa.

Cachorro é a mesma coisa:

- Já tive um desses, morreu com [x] anos (tristeza profunda)
- Ela é obediente?
- Vc só da ração?
- Quantos anos?

Fomos visitar amigos queridos que moram longe. De supresa voltamos com convite pra sermos padrinhos da menina deles. Uma honra ainda inédita pra nós mas que carimba nossa carteirinha do clube do filho.
Novo clube, novo papo:

- Só tem esse?
- Quantos meses?
- Oi Pedro!
- Ai gente... olha essa touca de urso!
- ARROUT!
- aaaahhh! Que fofo! 

Uma criança no colo faz amigos bem antes de pronunciar a primeira palavra. Desconhecidos chegam sorrindo pra conversar, falam de suas vidas e de seus filhos. Os mais velhos falam da saudade de seus bebês de colo que hoje estao na faculdade e os mais novos misturam curiosidade e solidariedade ao comparar (quase sempre sem maldade) os pequenos. Alguns adoram falar de cocô. Não sei porque rola um fixação de alguns pais por cocô.

A rapidez de um portador de bebê ao identificar outro em apuros é quase coisa de super herói ou mutante. Tá lá a mãe enrolada entre o ziper emperrado da bolsa e a criança berrando e do nada surge um pai/mãe desconhecido pra ajudar. É legal. A população de santos urbanos e amigos temporários cresce bastante quando a gente tem nossos gurizinhos. Desperta atitudes legais também dos sem-filho. Aquela nossa desconfiança constante em relação ao próximo parece se dissolver. Crianças catalizam coisas, filtram mazelas, fazem gente sorrir no saguão do aeroporto!

Fiquei pensando no momento que perdemos esse senso de coletividade. Adultos raramente se ajudam, raramente se falam ao acaso, jamais batem-papo pra hora passar mesmo que seja a unica opção do momento (vide salas de embarque). Você jamais falaria com aquele desconhecido, mas se ele estiver com uma criança é diferente. Por que? A criança nem sabe falar! O Adulto é o mesmo, não? Fomos ensinados e ensinamos nossos pequenos a não falar com estranhos desde cedo e levamos isso conosco. Esquecemos que depois de crescidos um cumprimento, um papo furado ou uma gentileza já não são aquela ameaça toda mas nos acomodamos assim mesmo na antipatia nossa de cada dia.

Isso vagou bastante pela minha cabeça entre um embarque e outro. Ao mesmo tempo que é legal ser um "associado" do clube do filho, é uma pena que nos agrupemos em clubes. Bom mesmo se nossos dias fossem uma festa popular dessas bem sem frescura onde todo mundo se fala e se ajuda.


4 comentários:

  1. É exatamente isso...!!! E desses papos, pode surgir seu(sua) melhor amigo(a)... simplesmente assim... Beijo ENORME em seus corações!!!! Fanzaaaaça!!! <3 <3 <3

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  2. É verdade. Fácil fazer amizades com outras pessoas quando tem criança envolvida. Adultos com crianças inspiram confiança, afinal tem que se ter um tico de responsabilidade pra cuidar de uma.

    Sobre a fixação com cocô: Ah, meu amigo... ninguém imagina que por a mão no cocô - porque você VAI encostar no cocô da criança cedo ou tarde - seria fácil e tão menos mal cheiroso que você poderia imaginar. Pelo menos nos primeiros meses.

    Adorei o blog!!

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  3. Cara, você é genial! Escreve bem demais e tem uma percepção fina das coisas. Virei freguesa do blog, tenha certeza! :-)

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    1. Obrigado freguesa. Pode pegar o que quiser é grátis. :-)

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