sábado, 6 de junho de 2015

Turno do dia 2

Não, eu não morri.
Em alguns momentos achei que fosse morrer, mas não aconteceu.
Desde que troquei de emprego e meu turno do dia virou lenda não consigo fazer nada que não seja trabalhar e dormir (pouco). Cheguei a virar 32 horas sem parar e quando achei que ia ficar doente...

- Ele não pode mais ir na escola.

Com essa frase a médica do Pedro jogava na nossa cara que de tanto ficar doente na escola a saúde dele tinha se esgotado. Não era uma sugestão, era uma ordem.

Como se tira um guri da escola sem família nas imediações?

Uma vó veio por uns dias, a outra veio mais um tanto. Mas o afastamento era de 2 meses. 2 meses? Ninguém pode parar a vida por tanto tempo porque os marmanjos aqui acharam bonito ter filho longe de todo mundo.
Como se já não houvesse culpa suficiente em criar filho em escolinha/creche ainda vem um chacoalhão de realidade...

- Flávio não pode largar o emprego senão meia casa cai
- Elaine não pode largar consultório senão a outra meia-casa cai
- Vós não podem
- Não há dinheiro pra babá
- Pedro precisa ficar em casa a partir de HOJE

PensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensaPensa

... TURNO DO DIA!

Fechei com a Elaine que arrumaríamos grana pra babá de meio período e dividiríamos a semana: 3 manhãs pra ela (que consegue remanejar a agenda), 2 manhãs pra mim. Dava certo. Só faltava um detalhe: eu contar pro meu emprego que ia mudar meu horário.

SÓ QUE a empresa atual não tem expediente noturno como a anterior. Eu tinha que criar um turno. E aí...

Medo de não deixarem
Medo de atrapalhar a carreira
Medo de não arrumar o dinheiro da babá
Medo de me colocarem num projeto-merda por eu deixar de ser alguém-com-quem-se-pode-contar

Eu não podia pedir. Se pedisse podia não dar certo.
Respirei fundo no meio de uma reunião e comuniquei: "a partir de amanhã trabalharei das 13 as 21 duas vezes por semana. Meu filho está doente e preciso cuidar dele."

Saí da reunião ainda de crachá. Aparentemente meu emprego continuava lá.
Mais tarde recebi apoio de minhas chefes e vi que tudo estava mesmo bem.

Retomei o cuidado com Pedro. Agora maior, gosta de passear no parque e sair correndo atras dos bichos que tem la. Descobri que mesmo num emprego "normal", 8 horas semanais fora do horário comercial não matam ninguém. Aliás, vc trabalha concentrado fazendo aquelas coisas que nunca consegue sem que te interrompam.

Pensei em todas as mulheres que passam por isso desde a revolução do sutiã e por mil razões não podem dizer no trabalho que estão trocando de horário.

Pensei em todos os homens que gostariam de fazer isso mas "não vai pegar bem"

Pensei em todas as empresas que querem dar algum incentivo a seus funcionários sem tomar prejuizo. 

Como eu já disse aqui outras vezes: muitos de nós topariam ganhar MENOS a troco de uma flexibilidade desse tipo oferecida de forma permanente. Ninguém trabalharia menos, só parcialmente deslocado em alguns dias. 
Casais de profissionais se revezando em horários alternativos, deslocando de 8 a 12 horas por semana em seus respectivos empregos em nome do cuidado com os filhos. Soa como algo que faria bem a todos, não?

Fica a dica, empresário.


6 comentários:

  1. Nossa!!!! Amei, amei e amei.Fico feliz por ter voltado a escrever, espero que continue.Lindo e gostoso de ler, até emocionante.
    Be

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  2. Legal Flavio! Essa experiência deve estar sendo muito boa para você. Muito bonita essa sua atitude para cuidar de seu filho, com certeza ele vai ficar muito orgulhoso de ter vc como pai e a Elaine como mãe.Parabéns!

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  3. Bom saber que vcs estão bem....e lembre-se..tudo se resolve....

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  4. Que bom que você voltou a escrever !!!

    Ah, se meu marido fizesse um esforço para dividir os cuidados com nosso bebê, sem que eu precisasse delegar essa tarefa a terceiros, para eu poder trabalhar. Ele é autônomo e de certa forma tem o poder de fazer isso, mas prefere dar diversas desculpas...rsrs

    #PorUmMundoComMaisPaisDeTurnoDoDia

    Abraços a vocês três...

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    1. Oi Dani. É um longo caminho. Não fomos criados assim e é preciso querer muito pra mudar isso.

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