Mais uma vez, Pedro guerreiro viajou de carro 700km com uma paciência que nem eu tenho.
Mais uma vez, corremos pro Paraná pra nos despedir de alguém.
Desta vez foi a tia Maria.
Eis alguém que eu queria que tivesse durado o suficiente pro Pedro conhecer direito. A tia era dessas pessoas que ajudava todo mundo mas não havia a menor possibilidade de conseguir ajudá-la. Aposentada ha varios anos pelo INSS, foi no seu tempo uma funcionária pública fora do padrão. Entrou na frente de muito atendente preguiçoso pra corrigir má informação.
Atendente: Seu processo ainda nao chegou senhor
Velhinho: Ah... certo. obrigado
Tia Maria: Ô! ÔO! PERAE! Nao vai embora não! Procura direito que ta aí, o fulana!
E quase sempre tava lá mesmo. A última briga pública dela que eu soube foi pra convencer um guarda de trânsito a não multar uma senhora (desconhecida) estacionada na vaga de motos. Afinal, tem moto que para em vaga de carro né? Não era justo.
Ela era assim. Tinha a sua própria lei e era a que valia. Qualquer notícia de jornal acabava em alguma grande teoria da conspiração. Ela entendia todos os bastidores do peão ao general. Do campeonato da terceira divisão ao Planalto.
Foi mãe de vários sem jamais ter tido um filho. Cuidou de sobrinhos, irmãos, pai, mãe e aprendeu tanto sobre hospitais e internações que não havia médico ou enfermeira que tivesse sossego enquanto não aceitasse o jeito certo dela de curar as pessoas.
Na casa da tia podia tudo e mais um pouco. Se quisesse podia até morar lá pra sempre. Ninguém ligado a ela jamais fazia algo errado. Se a gente roubasse um banco com certeza o banco teria merecido. Quem mandou dar sopa pros sobrinhos mais espertos do mundo?
Podia combinar o que quisesse com a tia Maria. Era fácil. Só não podia se importar que no final ela fizesse mesmo do jeito dela. Até pra tratar a grave doença que teve ia aos médicos meio que na surdina. Quase era preciso grampeá-la pra saber ao certo o que se passava. Dia desses ela informou que ia começar um novo tratamento. Se internou pra colocar um cateter e seguir rumo a cura. Aí, bem ao seu estilo, não voltou da anestesia.
Não era isso que estava combinado. Ao menos, não com a gente. Na cerimônia de hoje onde nos despedimos, até as músicas já estavam escolhidas. Por ela, naturalmente.
Primeiro texto seu que ao invés de rir estou em prantos! Eeee tia... Como vai fazer falta! :'(
ResponderExcluirsem palavras...
ResponderExcluirRealmente a Maria deixou muitos bons exemplos de bondade e solidariedade. Ela não passou simplesmente pela vida, ela deixou aqui a sua marca registrada. A saudade é muito grande e o vazio maior ainda. Nada e ninguém preencherá seu espaço. Que sua alma esteja em paz.
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